Descrição enviada pela equipe de projeto. Reabilitação de um apartamento inserido num edifício da autoria dos arquitetos Arménio Losa e Cassiano Barbosa, de 1965. O apartamento, que nunca foi usado como habitação, foi, desde o seu início, o escritório de uma outra dupla de arquitetos (Alcino Costa e Fonte Lopes) mantinha quase intactas, as características originais do projeto, quer em termos espaciais, onde não houve quaisquer alterações, quer nos acabamentos: pavimento em taco, portas, guarnições e rodapés, armários e revestimentos cerâmicos da cozinha e dos quartos de banho.
Espacialmente, a sua tipologia T3, separava a sala, quartos e um quarto de banho, das áreas de serviço - cozinha com entrada autônoma, varanda, sanitário e despensa. Para responder a formas contemporâneas de habitar, onde, genericamente, já não se demonstra necessária, a separação entre as áreas de serviço e a área social nos apartamentos, foi proposta a ligação entre o vestíbulo e uma pequena antecâmara de ligação à área de serviço, criando um espaço mais amplo na entrada.
Considerando também as atuais exigências de conforto e de privacidade, considerou-se que seria uma qualificação evidente a ampliação da sala de uso comum, em detrimento de um dos quartos, tendo sido assim possível criar um armário e uma zona de trabalho na sala e armários roupeiros nos quartos. A despensa, de dimensões exageradas para as atuais necessidades de arrumação e conservação de alimentos, foi também demolida, tornando possível a ampliação da cozinha.
Apesar das alterações espaciais e da renovação integral das infraestruturas elétricas, de aquecimento e de abastecimento de água, foi possível manter grande parte dos acabamentos existentes, considerados relevantes para a caraterização do desenho original do apartamento. Considerou-se essencial, a manutenção do pavimento em taco de madeira de pinho, que se encontrava globalmente em bom estado de conservação e que foi totalmente removido, tratado e posteriormente recolocado. Todas as restantes madeiras – portas, guarnições e rodapés – foram também integralmente recuperadas e mantidas:
- as portas, de desenho muito particular, com dois vidros (na suas partes inferior e superior da folha) quando localizadas nas áreas comuns ou de serviço e com um só vidro, em baixo, quando pertencentes aos compartimentos mais privados (quartos e sanitários);
- os rodapés de desenho expressivo pela sua dimensão, com 6 centímetros de altura e 4 de largura;
Na cozinha, procurou-se manter a expressão dos revestimentos, que são muito semelhantes, na tonalidade e nas dimensões, aos existentes – azulejo de produção semi-industrial, de tonalidade verde água, com 11x11 centímetros, nas paredes e ladrilho cerâmico, de cor cinza escuro, também de produção semi-industrial, com 20x20 centímetros, no pavimento. O armário superior, sobre a única bancada existente foi integralmente replicado, adaptando as suas dimensões – mantendo as proporções, o número de elementos, cor e puxadores – às atuais relações ergonômicas.
Nos sanitários, as opções tomadas foram mais radicais, pela necessidade de substituição de todos os elementos e revestimentos, tendo sido criados espaços com expressão e organização diferentes dos existentes:
- o quarto de banho junto aos quartos foi integralmente revestido com mármore preto, foi instalada uma base de chuveiro em substituição da banheira existente e foi desenhado um armário para o lavatório, com arrumação interior.
- o quarto de banho, agora da zona social, que originalmente funcionava como sanitário de serviço, comum na época de construção do apartamento, foi também revestido com mármore preto nas paredes, tendo sido criada uma base de chuveiro, originalmente inexistente (o escoamento da água do banho era feita através de uma ralo no pavimento);
Na cozinha, foi proposta uma nova bancada – para onde se transferiu o lava-louças e se integrou a máquina de lavar – com armários superiores e laterais. A porta exterior de acesso à varanda, abre para o exterior, permitindo o prolongamento do espaço da cozinha. As opções de acabamento das madeiras – pintura das madeiras existentes e envernizamento das novas superfícies – tornaram possível uma separação clara dos novos elementos desenhados nesta intervenção, de onde se destaca a criação de uma zona de trabalho, com uma mesa fixa, em frente a uma das janelas da sala e a porta de correr de duas folhas em vidro translúcido de tonalidade cinza com aro de madeira de nogueira, que permite diferentes leituras desde a entrada.